E se aquele peixinho no aquário fosse eu?
Ele viu tudo cor de rosa e viu também a destruição do nada ao seu redor... Ele sentiu sua água cristalina e ouviu sua água com seus próprios dejetos e do resto da sua comida podre...
Como a vida é tão efêmera? Como tudo pode ser tão bom e tão podre ao mesmo tempo?
O som abafado de quem está debaixo d'água traz tanta paz, que é difícil explicar para quem nunca praticou boiar na água. Imerso lá, com os ouvidos "em mergulho", ouvindo os sons exteriores abafados, parece que o nosso corpo se percebe como um todo... É isso! Dá para ouvir os murmúrios dos humanos além, o movimento da água e nossos barulhos internos, coração, deglutição, intestinos...
Se eu vivi a minha vida de peixinho de aquário naquela casa bonita e morri naquela casa feia, tendo como túmulo o meu aquário, Deixei para trás uma existência solitária e triste. Que bom ter memória de peixinho de aquário!...
Mas assim que pus os meus pés de Ariel na areia macia, naquela noite de Lua Nova, corri para o mar e mergulhei na água fresca e salgada, lavei a alma e fiz o batismo para a próxima jornada. Não era mais ninguém. Era apenas uma louca, sem face, sem identidade, que ouvia melhor a si mesma com os ouvidos dentro da água.
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